quinta-feira, 30 de abril de 2009

Biólogo alerta sobre Ribeirão João Leite

Carla de Oliveira – Portal do Ministério Público – 14/11/08


Mantido o atual modelo de ocupação da bacia do Ribeirão João Leite, os níveis de contaminação da água, decorrente da ocupação desordenada do solo na região, pode alcançar índices críticos, a ponto de comprometer o consumo pela população. A situação atual, segundo o biólogo Osmar Pires, coordenador do estudo Modelagem e Estudo de Viabilidade com Vistas à Estruturação de Empreendimento Turístico - Diagnóstico Ambiental e Possibilidades de Usos Sustentáveis da APA do Ribeiro João Leite, é muito grave e pode piorar, caso não sejam adotadas medidas para conter a ocupação desordenada e garantir o desenvolvimento sustentável da região.

O estudo, elaborado em parceria entre a Associação Comercial e Industrial de Goiás (Acieg) e a Secretaria Municipal de Turismo, foi apresentado ontem ao prefeito Iris Rezende. A bacia do João Leite atravessa sete municípios, sendo Goiânia o maior centro de urbanização do entorno da bacia.

Um dos principais impactos negativos, assinala o biólogo, pode ser sentido pela barragem do Ribeirão João Leite, construída para garantir o abastecimento de água potável à população da Grande Goiânia até 2025. Caso continue também o lançamento clandestino de efluentes e de produtos usados na agropecuária a vida da útil da barragem pode ser reduzida em até 50%. O biólogo afirma que o poder público precisa se antecipar e definir o modelo de ocupação desejável, dentro dos limites aceitáveis, para evitar a clandestinidade e a ocupação inadequada.



http://www.mp.go.gov.br/portalweb/conteudo.jsp?page=11&pageLink=1&conteudo=noticia/ccd3865e229211e6f2beecdec4774cce.html

Zonas turísticas para João Leite

Área de influência da barragem receberá investimentos para geração de empregos, renda e lazer

Diário da Manhã - 25/09/2008


Estudo sugere a criação de Zonas Especiais de Interesse Turístico (Zeit) em toda a região de influência da bacia do Ribeirão João Leite. A proposta, além de desenvolver o turismo local, vai evir a formação de favelas na área e, por conseqüência, a desvalorização imobiliária. O estudo é resultado do “Diagnóstico Ambiental e Possibilidades de Usos Sustentáveis da Área de Proteção Ambtaiental do Ribeirão João Leite”, realizado pela Associação Comercial e Industrial do Estado de Goiás (Acieg), juntamente com a Secretaria Municipal de Turismo (Semtur).

As Zeits dispõem sobre o uso do solo, limites e prescrições urbanísticas que vão favorecer o planejamento da expansão urbana, com base na preservação do patrimônio ambiental e na manutenção ou criação de atrativos turísticos. A proposta que vai dar condições de uso sustentável e exploração turística da região que permeia a barragem do Ribeirão João Leite foi divulgada ontem na Acieg e apresentou não apenas a possibilidade, mas a necessidade da construção de um complexo de lazer naquela região.

O secretário municipal de Turismo, Euler Morais (foto), disse que o momento é especial para o segmento empresarial ligado ao turismo, que tem tido dificuldades em buscar alternativas para o crescimento turístico em Goiânia. Ele cita que o município vai em busca de incentivos para o setor empresarial, juntamente com o governo do Estado e iniciativa privada para viabilizar o projeto.

O presidente da Acieg, Pedro Bittar, defendeu a utilização da área para promover o lazer e gerar emprego e renda para as cidades que estão ligadas à bacia.

Veja no jornal:

http://dm.com.br/impresso/7746/economia/50511,zonas_turisticas_para__joao_leite/


sexta-feira, 24 de abril de 2009

Que fazer no João Leite

Washington Novaes - O Popular - 23/04/09

Teria sido de extrema utilidade para goianienses e seus vizinhos ouvir, há umas duas semanas, exposição feita para o corpo técnico da Saneago pelo prof. Galizia Tundisi, sobre a barragem no Rio João Leite, projetada para abastecer de água a capital até o ano 2025. O prof. Galizia Tundisi é um dos maiores especialistas em recursos hídricos no País, professor universitário, autor de 15 livros e mais de 300 trabalhos técnicos na área, consultor da ONU e de 38 países. E deixou muito claro, depois de estudar o projeto, visitar a bacia, avaliar muitas questões: 1. o reservatório não é de uso múltiplo (turismo, irrigação etc.); “é uma caixa d’água” apenas; 2. o custo para a sociedade do tratamento de água poderá ser multiplicado até por cinco, se não houver condução adequada do processo; 3. é indispensável conter a expansão urbana nas redondezas do reservatório, inclusive criando/implementando áreas de proteção permanente; 4. a população precisa ser esclarecida, para posicionar-se em defesa de seus interesses e do uso único como reservatório para o abastecimento urbano.

Nesse trabalho, pensa ele, será preciso, antes de encher o reservatório, que se cuide dos esgotos clandestinos despejados no João Leite, a montante, e que se tratem os esgotos urbanos que para ele vão; que se reduzam as fontes de erosão e assoreamento nos tributários do rio; que se impeça a deposição e acumulação de lixo urbano em sua área; que se eliminem focos de contaminação por fósforo e nitrogênio, principalmente nas lavouras; e que se remova toda a vegetação antes de encher o reservatório (em Tucuruí, por exemplo, onde nada disso foi feito, em cinco anos foi preciso trocar as turbinas da usina hidrelétrica, avariadas pelos sedimentos).

Na verdade, disse o prof. Tundisi, “já há um estado de degradação na bacia”, conforme mostra também o relatório técnico da própria Saneago, sobre a expansão urbana nas bacias dos mananciais em Goiás. Esse documento coloca a bacia do João Leite entre as consideradas em estado “crítico” (o mais grave). E nela já são altos os riscos de eutrofização do reservatório, com a proliferação de algas e outras plantas, em consequência do carreamento de matéria orgânica e outros sedimentos da montante. Além de aumentar muito o custo de tratamento da água, esse processo pode levar à redução da capacidade de armazenar água, à contaminação por vários poluentes (inclusive remédios, pílulas, hormônios, só removíveis com altíssimos custos), à disseminação de doenças veiculadas pela água.

“A gestão tem de ser drástica”, enfatizou o conferencista. Por isso, a Saneago precisa “encabeçar um processo de gestão da bacia”. E fazer uma campanha que mostre à população por que devem ser esses os caminhos, que eliminem ali outras hipóteses, inclusive a de um de um grande projeto de estruturas voltadas para o turismo. Já há problemas demais, além dos mencionados: lavouras irrigadas, confinamento de bois, pisciculturas, frigoríficos, entre outros. As perdas de solo em lavouras na bacia (que geram sedimentos carreados pelo rio) são calculadas em 20 toneladas por hectare/ano. Um projeto turístico no entorno agravaria muito a possibilidade de poluição, os custos etc.

Isso não quer dizer que o uso único do reservatório inviabilize qualquer atividade ou geração de renda na área. O reflorestamento e a montagem de viveiros são perfeitamente viáveis, assim como postos de trabalho no monitoramento e fiscalização, além de certas atividades de ecoturismo que não dependam de grandes estruturas. Além disso, é preciso calcular o valor dos serviços ambientais prestados pelo projeto. O prof. Tundisi citou como exemplos estudos da Universidade de São Paulo sobre o valor do ar puro na Região Metropolitana de São Paulo (onde morrem 20 pessoas por dia por doenças decorrentes da poluição atmosférica), assim como a remuneração que está sendo paga a agricultores da região de Nova York, para que ajudem a conservar um manancial e dispensem a implantação de uma nova barragem de abastecimento, muitas vezes mais cara. Em Extrema, Minas Gerais, esse exemplo começa a ser seguido.

O diagnóstico não poderia ter sido mais claro. As recomendações também não. Agora, a questão precisa ser colocada para a sociedade goianiense e goiana, para que cerre fileiras em torno da destinação mais adequada da área do reservatório, bem como defenda a implantação das medidas complementares ao longo da bacia, propostas pelo prof. Tundisi. E sem perder tempo: o enchimento do reservatório já tem data prevista. O risco é de redução da capacidade dessa “caixa d’água” e forte encarecimento dos custos de tratamento – que recairão sobre a sociedade, que os terá de pagar em suas contas mensais.

Washington Novaes é jornalista